sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Liberdade em Assis

Realmente não sei como fui parar na cidade de Assis, só sei que acordei e estava em outro internato, novas pessoas, um local no campo, com muito verde, pomar, horta, campo, plantação de milho, mandioca, criação de vacas, porcos, faisões, patos, galinhas, ganço, codorna, uma verdadeira fazenda.

Todos os dias pela manhã era servido um maravilhoso e caprichado café com leite acompanhado com pão com manteiga, o pão era uma bengala fatiada, o leite Tarzam tirava das vacas, fresquinho fresquinho. Sei você deve estar pensando porque o apelido do cara era Tarzan, bem em internato qualquer coisa ou situação faz com que você tenha um apelido, e o dele era porque adorava imitar os gritos do Tarzan.

Mas como nem tudo é perfeito, meu café da manha foi bom durante pouco tempo,pois logo descobri que teria que guardar o meu delicioso, maravilhoso pão com manteiga, e dar para o Ricardo, um cara mais velho, que era responsável por cuidar na parte da tarde dos moleques pequenos. Mal acabava o café da manhã, iamos para o parquinho brincar, e na mão de toda a molecada o delicioso pãozinho. E enquanto nos divertíamos, olhávamos para aquela preciosidade em nossa mão, e íamos tirando pedacinhos da casca do pão e íamos comendo, de pedacinho em pedacinho...

Quando Ricardo chegava ele ia receber os pãos, cada qual entregava o que tinha na mão, desde um pequenino pedaço de casca, outros só o miolo, e alguns mais fortes o pão inteiro, porém aqueles que davam um pedaço mixuruca, já levava um tapão no pé do ouvido, quando não muito uma seqüência de porrada, para aprender a não comer "o pão do Ricardo".

Outra coisa que o Ricardo adorava era colocar dois moleques que ele escolhia para brigar, imagine que você estava ali tranquilo e ele te chamava e falava você e fulano, brigam, se não brigar vão levar porrada, a escolha era óbvia, antes bater ou apanhar de num colega da sua idade, do que apanhar de um "grandão". A galera fazia um circulo e a porrada comia solta, e enquanto um não perdia a briga, não podia pararmos, e se faltasse combatividade o Ricardo batia para aprender a não desrespeita-lo.

Pensar que antes do Ricardo chegar, eu e meus amigos, todos na faixa dos 6 a 9 anos, estávamos brincando, nos divertindo, em perfeita paz e união.

Uma coisa é certa, depois de algumas porradas do Ricardo, ou de qualquer outro moleque, você se adapta fácil e parte rapidamente para cima de qualquer oponente e bate sem dó. E foi agindo assim, que passei a ser o segundo melhor na porrada, perdendo apenas para Ronaldo.

Mas quando estava livre brincando, eu adorava a caçar borboletas, pois Assis tinha muitas borboletas coloridas e aquilo me fascinava, onde com um pedaço de arame e um saquinho plástico, fazíamos o pegador de borboletas, e lançávamos em disparada atrás das borboletas, chegávamos a colecionar, onde guardávamos em potinhos de vidro ou lata velha de leite. Também adorava pegar marimbondo, da bunda preta e amarela e cabeça vermelha, que chamávamos de 24 horas, pois segundo os amigos, se ele nos picasse em menos de 24 horas morreríamos, e como adorava correr risco, pegava um pedaço de plástico e ficava ali aguardando o 24 horas cavar sua casinha no chão de barro, e assim que ele entrava tampávamos a saída com o plástico, e pegava ele, onde amarrávamos uma linha e ficava empinando-o, como se fosse um pipa.

Adorava andar no pasto e ver as vacas comendo, mas toda vez que uma ameaçava de vir para cima de nós, era uma correria lascada, realmente era muito divertido. Passávamos no milharal e tirávamos um milho para servir aos porcos, onde por uma fresta na cerca do chiqueiro alimentava-os, riamos muito e falavamos muitas bobeiras. No chiqueiro também encontrávamos ovinhos de largatixa, os quais pegávamos para estourar. Segundo a crença a largatixa era perigosa, que se agarrasse no pescoço da gente ela nos sugaria todo o sangue até morrer.

Na época de Iça, momento esse onde as formigas se acasalam, ficávamos no pasto, esperando sair aquela formiga bem bunduda, para colocarmos centenas de bundas de formiga numa latinha de goiabada vazia, e levava na fogueira para assar e depois comer, que espetáculo delicioso!!!

E em tempos em tempos, as freiras reuniam todos os meninos para recolher as bostas secas das vacas para colocar num canto para fazer adubo. E ao lado do monte de bosta, dois meninos seguravam uma peneira enquanto outro jogava a bosta em cima da peneira e ia raspando, e na parte de baixo ia caindo um pó de bosta, o adubo, o qual usavamos no pomar.

Na Horta adorávamos ir escondido roubar as "cenouras das freiras", fresquinhas, puxávamos e saiamos correndo, e bem longe dali, lavavamos e comiamos delicosamente, tinha que ser algo bem secreto, pois se fosse pego iria receber castigo. E essa ameaça sempre nos deu muito medo, mas que valia correr o risco valia.

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