terça-feira, 24 de julho de 2007

Bolivianos inseguros.

Minha avó por mais duas vezes teve que ir ao CETREM, ir me retirar de lá, junto com a minha mãe, Ana Maria, onde havia sido encontrada pelas ruas da cidade toda maltrapilha e embriagada, comigo pelado ao colo, chorando de frio e fome.



Como isso passou ser a rotina da minha avó, e ela possui outros 8 filhos para cuidar, e Ana Maria era a mais velha, e maior de idade, irresponsável e problemática, ela solicitou para que eu, fosse internado na Febem, informando que a mãe quanto ela não tinham condições financeiras e psicológicas para cuidar de mim.



A primeiro instituição que fui internado era Sampaio Viana, onde havia centenas de crianças, como eu, todas menores abandonados pelos pais. Lembro bem logo na entrada alguns bichos feitos de pedra, no patéo um longo terreno, com paineiras onde faziamos bonequinhos com a flor em formação e palitos de fosforo. No almoço tinhamos comida em fartura, maravilhosa comida, onde me fartava, pois nunca tinha comido, comida de verdade até os meus 3 anos. Eu era um criança, cheia de verme, desnutrido, manchas no rosto, mal conseguia ficar em pé, devido a fraquesa nas pernas.


Não esqueço o dia que deram remédio de vermo para todas crianças do Sampaio Viana, quando todos corriam de um lado para o outro ver o que acontecia com os amigos que estavam passando mal, ou estavam com vermes, uns saindo pelo nariz, outros ao defecar, gritavam assustado com a lombriga pendurada, e teve alguns que vomitaram várias ao mesmo tempo, realmente foi um festival de nojeira, mas nós riamos muito de ver os outros soltando aquelas coisas.

Alguns meses se passaram e um casal de boliviano me adotou, eu os achava uns estranhos, tinha medo das pessoas, não gostava de gente adulta, pois me apavorava, e eu chorava tanto que em menos de uma semana me devolveram a Febem. A assistente social, ouviu as queixas e os acalmou informando que é normal na fase de adaptação, eu estava feliz, pois iria rever e morar do lado dos meus amigos, mas porém os Bolivianos foram convencidos que deveriam me dar mais uma chance, se eles soubessem que o melhor para mim era ficar ali junto com outras crianças como eu.

Os meses se passaram, e o casal de Boliviano tirou meus documentos, dando meu nome como Luis Henrique Sampaio, as vezes fico a pensar se o sampaio veio do colégio Sampaio Viana, ou realmente era porque minha familia tinha o sobrenome Sampaio. Seguiamos uma vida normal, mas sempre eles me encontravam chorando pelos cantos da casa, onde sempre confidenciava que meus pais haviam morrido na guerra. Agora fica a pergunta, como uma criança de menos de 4 anos tem uma fantasia dessa na cabeça ? Realmente nem eu sei explicar, se isso é vidas passadas, ou sonhos de um pequenino.

Passado uns 4 meses o casal realmente achou que eu nunca me adaptaria a familia deles e acabaram por me devolver na FEBEM.



quarta-feira, 18 de julho de 2007

O menor abandonado

Essa passagem da minha vida, só foi possivel ter conhecimento graças a Secretária de Estado, senhora Alda Marcoantonio, que no governo Quércia, entregou cópias dos processos de internação dos Ex-Menores da Febem.

Minha mãe, Ana Maria Sampaio, filha do casal Ana Dinamérico Sampaio e Xisto Sampaio, irmã mais velha entre 8 irmãos. Levava uma vida simples na Vila Brasilândia - São Paulo. Era uma pessoa meio desmiolada, onde saia de casa para ir para rua mendigar, e o que ganhava gastava com bebida, e devido ao vício, caia pela rua e dormia.

Nas suas andanças conheceu Mirito Souza Lima, 47 anos, um sansei, vendedor de amendoim, na praça das bandeiras, ao qual teve um relacionamento e engravidou, com apenas 18 anos de idade na época.

Devido a recusa de tê-lo como seu companheiro, Ana Maria ficou perambulando pelas ruas, alcoolizada, durante toda a gestação, seus pais tentavam dissuadi-la a ficar em casa, porém, todos os dias, ela seguia o mesmo ritual a procura de Mirito.

Assim que seu filho nasceu, Luis Henrique, descobriu uma forma de alimentar o vício do alcool, pedindo dinheiro para alimentar o filho, e com o que ganhava, bebia até cair.

Um certo dia uma mulher ouviu um choro de uma criança, vinda de uma casa abandonada e avisou a rádio patrulha, que ao chegar ao local encontrou o bebê pelado, chorando de frio e fome. A viatura pegou mãe e filho e encaminhou para o CETREM - Centro de Triagem para pessoas de rua, onde ambos tiveram direito a banho, alimentação e pouso. No dia seguinte foi solicitada a Ana que indicasse um responsável ou pais para retira-la da unidade, comparecendo sua mãe, que prontamente retirou-nos do local.