sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A Loira do Cigarro.

Sempre que falava arrespeito da aparencia da minha mãe, era motivo de chacotas, muita piada, e gargalhadas.

Para o você ter uma idéia em minhas mais remotas lembranças, minha mãe era uma loira, bonita e muito malvada, porém como poderia explicar para os amigos, uma vez que eu sou moreno e tenho olhos puxados de japones. Todos me chamavam de japones, chines ou coisa parecida, agora ter uma mãe loira...kkkk, esse era o eco que soou em meus ouvidos por muitos anos.

O mistério foi desvendado, quando ao pegar o meu processo junto a Secretaria do Menor, soube que a loira era uma mãe adotiva, isso mesmo, uma senhora que trabalhava na USP, morava na rua da consolação, num apartamento...

Eu tinha por volta dos 3 a 4 anos, quando fui adotado pela loira, aparentemente uma pessoa boa, tranquila, muito atenciosa, pelo menos perante a assistencia social, e eu ficava ali calado, pois não acredita em ninguem, e era estranho que alguem iria me tirar do colégio, onde eu vivia com meus amigos, e levar para algum lugar estranho.

Minhas lembranças da loira se resume em sofrimento, pois lembro bem, que não sabia andar direito, minhas pernas davam passadas meio cruzadas, e quando menos esperava lá vinha um cróque na cabeça, e os berros para que eu andasse direito, mas a pergunta é, como é andar direito? o que tem que fazer, que eu não faço? E como doia muito os cróques, caia em pranto e por chorar apanhava mais ainda.

Lembro quando estavamos para sair, me vistia correndo, e calçava a minha botinha, mas não sabia amarra-la, e a loira, toda nervosa, com cigarro empunhado na mão, perdia o controle e o apagava em minhas pernas. Doia muito, gritava, esperneava, chorava, e ela mais dencontrolada ainda, continuava a apagar o cigarro em minhas pernas para aprender a lição.

Todos os dias sofria muito ao ve-la ir embora, e não podia acompanha-la, pois sabia que ficaria ali preso no apartamento e sozinho. Chorava, chorava, e soluçava, e depois de algumas horas chorando, minhas lagrimas secavam, e o meu sorriso aparecia, pois um cãozinho piquenês me fazia companhia, brincava comigo, para superar a sua tristesa de morar só também.

Certa vez fomos viajar para Bauru, na casa da familia dela, em plena rodoviaria da Estação da Luz, meus olhos brilhavam ao ver aquele teto multi-colorido, o dia estava chuvoso, era um verdadeiro temporal, mas o teto... quanta alegria, quanta vida, nunca tinha visto algo tão colorido, tão bonito.

Finalmente uma assistente social, foi me visitar, para saber como estava sendo tratado, e para surpresa dela, me encontrou preso no apartamento, sozinho, e através da janela de serviço, num corredor do prédio, perguntou por minha "mãe", disse a ela que foi trabalhar, ela quiz saber se sempre ficava sozinho, respondi que sim, ai ela pediu para que eu tentasse sair pela janela, o que fiz subindo em um móvel proximo a janela. E ao sair fui levado para o Juizado de menor, onde a Loira foi convocada e perdeu a minha guarda. E fui encaminhado para o Pavilhão 03 na FEBEM.

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